terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A memória e os lugares.

Mar. 2006


Uma praça , uma rua, uma esquina.
Um poste com alguma coisa escrita, alguma data riscada no cimento da calçada.
Só um lugar pode remeter fielmente uma memória.
"- Sentávamos nesse banco quando jovens."
"- Morava nessa casa aquela pessoa. "
"- Bem nessa esquina havia um bar. "
É vão lutar contra a transformação e o desenvolvimento e tentar impedi-los é retroceder, mas quanto de nossas memórias não se vão com as transformações dos lugares?
Fim de ano nostálgico, pra mim principalmente, que comemoro junto com a chegada do novo ano, o fechamento de um outro ciclo.
Porque, afinal , é cíclica a vida.


♫ Here Comes The Sun - Nina Simone





terça-feira, 2 de novembro de 2010

o desgostar.

É necessário e difícil, eu sei.
Seguir fingindo que essa história não me afeta mais e que isso são águas passadas tem sido minha tática, e olha, vem funcionando. Às vezes, claro, tenho recaídas, lapsos de pensamentos que eu não devo mais ter que vem me confrontar geralmente na madrugada, quando a escuridão me deixa mais vulnerável. São breves e já no instante seguinte volto a pensar com racionalidade.
Evitar encontrar ou saber notícias também é uma boa saída. Hoje meu coração não bate mais tão acelerado quando a gente se encontra, nem quando a gente conversa, nem quando a gente se despede, e eu me despeço e respiro aliviado. Fico alegre quando tenho a consciência de que não tive uma taquicardia, não tremi, agi com naturalidade e que tudo nessa vida passa, até uva. rs.
Ficar sem saber notícias é sim, muito difícil. Mas já não roo unhas, nem corrôo nervos, sempre imaginando onde a pessoa pode estar, com quem ela pode estar, o que ela pode estar fazendo, enfim...
Me ocupar com coisas que dependem só da minha vontade, me divertir, sair com os amigos, fofocar e viajar tem ajudado muito. Já consigo rir dessa situação que mais uma vez se repete, consigo rir dessa minha eterna falta de sorte, já não fico desesperado, nem tento mais descobrir onde eu errei ou porque não deu certo. Não errei sozinho e a culpa de não ter dado certo não é só minha. Não lamento mais nada, nem me arrependo do que não fiz nem do que fiz.
No fim de tudo, aprendi. Isso me remete aquela frase da Clarice Lispector: "Já caí inúmeras vezes, achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais." Aprendi que depois dessa vai haver outra e que eu vou superar até vir uma outra e uma outra, e se for do meu destino vai acontecer aquela, que sempre esteve me esperando em algum lugar.
Enfim, o desgostar é uma tarefa árdua e lenta que requer determinação e sobretudo paciência. Sigo confiante cada vez mais e mais e mais, um dia eu chego lá.


Love mo or leave me - Nina Simone

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

SUGESTÕES PARA ATRAVESSAR AGOSTO

Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro- e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco.É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante:ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir,dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros angúrios, premonições.
(...)
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu- sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se , e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques-tudo isso ajuda a atravessar agosto. (...)
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter demais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco.

(Caio Fernando Abreu, crônica escrita em AGOSTO de 1995, O ESTADO DE SÃO PAULO)

domingo, 25 de julho de 2010

as pessoas mal resolvidas

ou bem resolvidas mas que, hipocritamente, burlam seus destinos por medo da rejeição alheia.
Sempre tive problemas com esse tipo de pessoa porque sempre tive problemas com pessoas covardes.
E o que seria mais covarde do que abrir mão do que se é verdadeiramente só por ser mais cômodo ser o que não se é?
Definitivamente, me recuso, a partir desse momento, me envolver com essas pessoas.
Sou cheio de defeitos, dentre tantos outros, sou irônico, depreciativo, egoísta e por muitas vezes, cruel, mas uma coisa que eu não sou é covarde.
Já faz algum tempo que decidi viver exatamente da maneira que sou. Se eu sofri alguma vez com isso, não lembro ou já passou. Se não pesei devidamente os prós e os contras, já não é mais tempo.
A única certeza que tenho é que sou livre e vivo extremamente feliz só porque me aceito e aceitar a si próprio pode parecer mais difícil porém é muito mais recompensador do que ser aceito por terceiros, de uma forma não verdadeira.
Mas sim, falando delas e não de mim, não entendo a mente destes a que me refiro, sinceramente não.
Para mim sempre foi muito fácil diferenciar coisas, gostos e prazeres. E até mesmo pessoas, que eu faço questão de dispô-las em categorias: das essenciais as irrelevantes.
Eu não vou comer jiló só porque tá todo mundo comendo. Eu não vou ouvir tal música só porque todo mundo ouve. E eu não vou viver à margem daquilo que eu sou só porque alguém disse que é errado.
Nesse momento, é mais cômodo a essas pessoas não se aceitarem e fingirem ser o que não é, nesse momento, a falsa felicidade dessas pessoas parecem ser suficientes. Mas até quando?
Quando é a hora de romper esse laço e voar da gaiola? Eu digo: a hora é agora. Ou antes. Ou o mais rápido possível.
Quanto mais tempo a gente não se aceita mais pessoas se agregam a nós e passam viver a nossa mentira. E quanto mais tempo vamos permanecendo assim, mais mentiras se acumulam e mais dor será causada na hora do 'que se foda'!
Porque sim, essa hora chega pra todo mundo. Com ou contra a nossa vontade. Porque você já ouviu falar, mentira tem perna curta, que pode durar até uma vida inteira, mas que em um dia qualquer, vai vir à tona e você será lembrado para sempre como a pessoa covarde que foi a vida toda, que enganou todo mundo e que causou muita dor.
Felizmente, isso não vai acontecer comigo nem com um bocado de outras pessoas que assim como eu, vivem da forma que são. Sou feliz por elas, sou feliz por mim.
Não sei qual o propósito desse texto, se é mera catarse, orgulho ferido ou puro despeito, só sei que de uma forma ou de outra, assim como eu, ele é verdadeiro.



sábado, 10 de julho de 2010

do not wait.

As coisas que nos marcam ocorrem despretensiosamente.
Não se pode esperar, só o inesperado faz a diferença.
B. sabe disso. Foi numa tarde quente em que B. saiu de casa despretensiosamente para comprar cigarros.
Não fumava em dias quentes, mas nesse dia, despretensiosamente, resolveu fumar.
Foi na volta, já fumando, que B. viu o inesperado. Em todo sólido, todo gás e todo líquido.Cabeça.Tronco.Membros.
Pensou: não devia estar fumando, vai que. Devia ter tirado a barba, vai que. Devia ter me vestido melhor, vai que.
E o incrédulo aconteceu assim: B. fumando, barbado e maltrapilha.
E assim se seguiu, inesperadamente de ambas as partes, day after day, até o dia em que o inesperado não veio mais e B. esperou, esperou e desesperou. Nunca mais.
De tanto esperar B. cansou e não espera mais.
Aprendeu que as coisas que nos marcam ocorrem despretensiosamente e que não se pode esperar porque hoje sabe que só o inesperado faz a diferença.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

sobre todas as coisas.



Senti saudade desse espaço, onde eu escrevo milhões de bobagens sem relevância nenhuma pra ninguém, talvez nem mesmo pra mim. Mas me deu uma vontade de revitalizar isso aqui, de me fazer mais presente, de discorrer sobre qualquer besteira que eu esteja pensando assim como eu faço no Twitter. E sim, a grande culpa da minha ausência aqui é do Twitter.

Enfim, a saudade que bateu, passou e agora veio a preguiça. Mas vou aguentando firme e escrevendo até a hora em que eu achar que chega e publique essa postagem.

Olha, nem sei por onde começar. São tantas coisas que aconteceram e que estão acontecendo, que eu simplesmente me perco.

Eu poderia começar falando sobre a Copa e sobre o quanto isso não me interessa, nem me comove. Poderia falar da enchente em Pernambuco e Alagoas, que me comove mas não o bastante para me tirar da inércia. Poderia falar sobre as eleições mas disso eu não sei falar direito porque sinceramente, não me interesso.

Poderia discorrer sobre o quão a minha vida acadêmica foi quase totalmente dispensável nesse semestre. Poderia falar sobre o meu projeto de monografia que eu apresentei hoje, que eu fiz em cima da hora e que foi criticado pela banca. Poderia dizer que não suporto mais a vivência acadêmica apesar de ter um medo enorme de sair e enfrentar o mercado de trabalho.

Lady Gaga, Justin Bieber, Cine, Restart, Eclipse e Fiuk dariam muito pano pra manga se eu tivesse 12 anos que nem minha irmã. Poderia falar que eu passo mais da metade do meu dia dormindo e a outra metade tentando dormir. Que eu engordei consideravelmente e me alimentando muito mal. Que eu adoeci final de semana passado por ter passado toda a semana me embriagando.

Poderia dizer veementemente que eu quero férias, mesmo tendo tido férias praticamente todo o semestre.Poderia dizer que toda vez que eu escuto 'avassalador, chega sem avisar', eu lembro do que eu deveria esquecer. Que eu deveria estar focado nas coisas que dependem somente da minha vontade. Que eu sou infantil e imaturo. E que, parafraseando Caio F. " No meu demente exercício de pisar no real, finjo que não fantasio. E fantasio, fantasio."

Poderia narrar minhas insônias e minhas noites mal dormidas. Meus sonhos e meus horários completamente desregulado de sono. Que eu ando extremamente fadigado, entediado e com uma preguiça enorme de encarar meus dias, tratar com pessoas, fingir interesses, demonstrar empatia e socializar por conveniência.

Poderia dizer mil nomes, de mil pessoas que eu antes apreciava e que por nenhum motivo aparente eu passei a abusar, a não suportar e a fugir. Que eu, preciso extremamente de silêncio, sossêgo e privacidade. Que eu ando gastanto demais e que hoje às 04:07 da madrugada eu estou me sentindo extremamente feliz porque é começo de mês e mais tarde vou ter dinheiro.Poderia dizer que dinheiro me traz sim felicidade e que eu fico significativamente abalado quando ele falta ou é pouco.Poderia listar mil filmes que eu tenho pra assistir e não assisti por pura preguiça. Mil livros que tenho pra ler e que não li porque mesmo?
Pra terminar isso aqui, poderia dizer inúmeras coisas mas prefiro continuar calado mesmo.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Luxo Decadente.




Sério, sou uma pessoa muito simples.
O que me alegraria hoje: uma carteira de cigarro.
Não tenho pra onde sair e nem com quem sair, agradeci muito por ter descoberto uma garrafa de vinho nas coisas da minha mãe, por ter meio litro de Campari no bar daqui de casa, por tá frio e neblinando, por eu poder escutar uma música boa, meio depressiva talvez.
Vou me contradizer agora, dizendo que eu queria estar num lugar superbadalado, com a música doendo nos meus ouvidos, cercado pelos meus amigos e morrendo de rir...É querer demais, beleza.
Vou me embriagar, me embriagar, porque se embriagar é preciso, já dizia Charles Baudelaire, é preciso estar sempre embriagado essa é a única questão. Para não sentir o horrível fardo do tempo que lhe quebra os ombros e o curva para o chão, é preciso embriagar-se sem perdão.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser.
Mas por favor, só uma carteirinha de cigarro.