sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

À Memória de Caio F.

"Somos todos imortais. Teoricamente imortais, claro. Hipocritamente imortais. Porque nunca consideramos a morte como uma possibilidade cotidiana, feito perder a hora no trabalho ou cortar-se fazendo a barba, por exemplo. Na nossa cabeça, a morte não acontece como pode acontecer de eu discar um número telefônico e, ao invés de alguém atender, dar sinal de ocupado. A morte, fantasticamente, deveria ser precedida de certo ‘clima’, certa ‘preparação’. Certa ‘grandeza’. Deve ser por isso que fico (ficamos todos, acho) tão abalados quando, sem nenhuma preparação, ela acontece de repente. E então o espanto e o desamparo, a incompreensão também, invadem a suposta ordem inabalável do arrumado (e por isso mesmo ‘eterno’) cotidiano. A morte de alguém conhecido e/ou amado estupra essa precária arrumação, essa falsa eternidade. A morte e o amor. Porque o amor, como a morte, também existe – e da mesma forma, dissimulada. Por trás, inaparente. Mas tão poderoso que, da mesma forma que a morte – pois o amor também é uma espécie de morte (a morte da solidão, a morte do ego trancado, indivisível, furiosa e egoisticamente incomunicável) – nos desarma. O acontecer do amor e da morte desmascaram nossa patética fragilidade."

(Caio Fernando Abreu, *12.09.1948 † 25.02.1996)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Malandragem dá um tempo.


Leonardo Filizolla, solteiro e vacinado, libriano, nascido em vinte e nove de setembro de um ano que não vem ao caso.
Não sou vegetariano, não sou abstêmio, não sou não-fumante, não sou paciente e geralmente não sou o que esperam de mim.
Não sou rico , não tenho carro, não tenho casa própria, nem conta bancária. Moro com meus pais até tomar outro rumo na vida ou até quando eles me permitirem.
Sou crítico, inconsequente, irresponsável, intempestivo, impulsivo. Mas acreditem, quem realmente importa, me ama assim mesmo!
Aproveito muito da vida e de tudo o que ela me proporciona, do melhor ao pior.
Lavo, passo, cozinho, costuro, desenho, pinto, bordo, canto, danço, represento, faço amor gostoso e tenho um enorme talento para boêmia.
Cheguei a essa idade que não vem ao caso, nem firme nem forte, mas cheguei. Terminei uma faculdade, nem firme nem forte, mas terminei. E agora, arrumei meu primeiro emprego e um peso de uma tonelada que se chama responsabilidade. E eu não estou preparado.
Caminhar com as próprias pernas e ser reconhecido pelo trabalho que se desempenha não é fácil. Se desmembrar da pessoa que eu era até alguns meses atrás e se transformar em um profissional ético e seguro do seu dever, também não.
Só não me desespero porque igual a confiança, a maturidade é algo que se adquire de forma lenta e gradual. E se alguém me pergunta se eu já apresento algum progresso, não sei dizer.
O que eu sei, e isso eu não digo a ninguém, é que, lá no fundo, escuto uma voz que diz:
"- Se segura, malandro, pra fazer a cabeça tem hora."