domingo, 10 de julho de 2011

Não vou mais falar de amor.

De dor. De coração. De ilusão. Pensei com determinação.
Respirei fundo minha auto-suficiência.
Desejei sair a passos mudos mas doeu olhar pra trás e ver que nada mais ali era meu, nem seria.
Pensei em esquecer uma camisa, um livro ou uma fotografia antiga.
Pra não usar isso como subterfúgio pra voltar lá de novo, desisti.
No curto segundo que separava o fica comigo do ir embora pra sempre, corri até a mesma e rabisquei num papel desimportante:

" mas não tem revolta não, eu só quero que você se encontre
saudade até que é bom, é melhor que caminhar vazio,
a esperança é um dom que eu tenho em mim
não tem desespero não, você me ensinou milhões de coisas,
tenho um sonho em minhas mãos, amanhã será um novo dia,
certamente eu vou ser mais feliz."

Não olhei pra trás, apaguei a luz e tranquei a porta.


after you've gone - fiona apple ♪

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Canto Para A Minha Morte

Uma inconveniência quase cotidiana e geralmente nas madrugadas quando a solidão da noite nos deixa mais vulneráveis. Não gosto de pensar muito sobre minha morte com medo de atraí-la e é com exacerbada relutância que escrevo sobre ela, pois se o pensar pode atraí-la, traduzi-los em papel parece convocá-la. Um documento pra posteridade, um epitáfio.

Não sei com que propósito, imagino o meu funeral, quais pessoas compareceriam? Quantas deveriam estar ali e não foram? Quem choraria? Quantos estranhos veriam meu corpo e conheceriam minhas histórias por outros estranhos que muito já saberiam de mim através dos apelos e do choro inconsolável da minha mãe?

Com que roupa estaria vestido e quais flores serviriam de adorno para minha última morada? Me prestariam homenagens? Quem? Quais? Eu realmente as merecia?

Quanto de falta ou alívio faria? Como seria no meu trabalho? Quantos projetos concluiria? Quem me substituiria? Por quanto tempo sentiriam minha falta? Quanto tempo até me tornar apenas uma lembrança?

Quantos lugares e pessoas eu ainda conheceria? Quanto de riso ou de choro eu ainda provocaria? Ainda me apaixonaria? Continuaria sendo feliz como sou hoje? Como seria o mundo sem mim?

Absolutamente igual. A vida é só um bonde que eu peguei junto com outros milhões.

Uns já desceram antes de mim e eu descerei antes de outros e serei desimportante pra uma grande maioria que seguirão nesse bonde vendo outros descerem e que também descerão antes de outros. E assim sucessivamente, nos trilhos desse bonde que segue não se sabe pra onde e possivelmente nunca se saberá. Desconfio mesmo que esse bonde caminhe em círculos e que vai ser assim pra sempre.

Não há o quê fazer e é até revoltante a nossa passividade/fragilidade diante da morte e de tudo que continuará existindo independente e indiferente à nossa existência. O que nos resta: viver.

'A vida é uma viagem, pena eu estar só de passagem' já disse Paulo Leminski.


"Oh morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem,
Nos meus filhos, na palavra rude
Que eu disse para alguém que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite..." Raul Seixas

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

À Memória de Caio F.

"Somos todos imortais. Teoricamente imortais, claro. Hipocritamente imortais. Porque nunca consideramos a morte como uma possibilidade cotidiana, feito perder a hora no trabalho ou cortar-se fazendo a barba, por exemplo. Na nossa cabeça, a morte não acontece como pode acontecer de eu discar um número telefônico e, ao invés de alguém atender, dar sinal de ocupado. A morte, fantasticamente, deveria ser precedida de certo ‘clima’, certa ‘preparação’. Certa ‘grandeza’. Deve ser por isso que fico (ficamos todos, acho) tão abalados quando, sem nenhuma preparação, ela acontece de repente. E então o espanto e o desamparo, a incompreensão também, invadem a suposta ordem inabalável do arrumado (e por isso mesmo ‘eterno’) cotidiano. A morte de alguém conhecido e/ou amado estupra essa precária arrumação, essa falsa eternidade. A morte e o amor. Porque o amor, como a morte, também existe – e da mesma forma, dissimulada. Por trás, inaparente. Mas tão poderoso que, da mesma forma que a morte – pois o amor também é uma espécie de morte (a morte da solidão, a morte do ego trancado, indivisível, furiosa e egoisticamente incomunicável) – nos desarma. O acontecer do amor e da morte desmascaram nossa patética fragilidade."

(Caio Fernando Abreu, *12.09.1948 † 25.02.1996)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Malandragem dá um tempo.


Leonardo Filizolla, solteiro e vacinado, libriano, nascido em vinte e nove de setembro de um ano que não vem ao caso.
Não sou vegetariano, não sou abstêmio, não sou não-fumante, não sou paciente e geralmente não sou o que esperam de mim.
Não sou rico , não tenho carro, não tenho casa própria, nem conta bancária. Moro com meus pais até tomar outro rumo na vida ou até quando eles me permitirem.
Sou crítico, inconsequente, irresponsável, intempestivo, impulsivo. Mas acreditem, quem realmente importa, me ama assim mesmo!
Aproveito muito da vida e de tudo o que ela me proporciona, do melhor ao pior.
Lavo, passo, cozinho, costuro, desenho, pinto, bordo, canto, danço, represento, faço amor gostoso e tenho um enorme talento para boêmia.
Cheguei a essa idade que não vem ao caso, nem firme nem forte, mas cheguei. Terminei uma faculdade, nem firme nem forte, mas terminei. E agora, arrumei meu primeiro emprego e um peso de uma tonelada que se chama responsabilidade. E eu não estou preparado.
Caminhar com as próprias pernas e ser reconhecido pelo trabalho que se desempenha não é fácil. Se desmembrar da pessoa que eu era até alguns meses atrás e se transformar em um profissional ético e seguro do seu dever, também não.
Só não me desespero porque igual a confiança, a maturidade é algo que se adquire de forma lenta e gradual. E se alguém me pergunta se eu já apresento algum progresso, não sei dizer.
O que eu sei, e isso eu não digo a ninguém, é que, lá no fundo, escuto uma voz que diz:
"- Se segura, malandro, pra fazer a cabeça tem hora."